Em um de seus programas eleitorais nos indaga o humorista Tiririca, então, candidato a uma vaga na Câmara Federal: “O que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto”. Sacada de humor inteligente, faz-nos questionar por que um humorista tão bem sucedido como ele deseja eleger-se a um cargo que, em tese, pode até atrapalhar a sua carreira artística. Talvez, assalte-nos de imediato a idéia de que sendo deputado federal a grana correrá solta, as facilidades, o prestígio, sobretudo, o poder. Talvez, imaginemos que na mente do humorista, como na mente de "O avarento" de Molière, não haja mais espaço para pensar em qualquer outra coisa a não ser no dinheiro e no poder; que o Tiririca, de repente, demonstra ser um maquiavélico no sentido pejorativo que dão a esta palavra, enfim. Mas, mais do que isto, claro, nos agita o preconceito, nos desordena a imagem poética e consagrada de que na "Casa do Povo" só os afortunados, os intelectuais, os ricos podem ocupar espaço, então, veem-nos novamente a mente a idéia de que política é coisa séria e a consequência direta, imediata disto é que pobre, humoristas, sacanas, putas, sadomazoquistas, dançarinas, etc., "não podem" candidatar-se a uma vaga em qualquer das instâncias do poder institucional. Veem-nos, novamente, aquela imagem pura, branca (racista, preconceituosa) de que o poder tem de ser alvo, limpíssimo (projeto ficha limpa atinge para além dos devedores da justiça a conduta moral ilibada excluindo todos os aqueles que não vivem segundo os preceitos morais da sociedade), portanto, negros no poder seria uma temeridade, outra vez, portanto, o conservadorismo e o moralismo. Não é à toa, portanto, que no Horário Eleitoral Gratuito (para muitos Hilário Eleitoral Pago), os políticos aqui na Paraíba gritem palavras de ordem tais como "Pela família, contra a lei da mordaça (PLC 122: Lei que penaliza homofóbicos), pela moral, pelos bons costumes", enfim, o reprodutivismo moral aceito, mas que na seara da intimidade o vale tudo é descoberto pelas mídias, pelas informações, por um simples aparelho celular com câmera. Será que já não nos basta os exemplos, a truculência com que se tratam políticos adversários de modo tão incivilizado; será que já não nos basta a falta de propostas, e mais do que simples propostas, ações, efetividade nas ações? Não sorrir de nós o humorista de modo muito inteligente quando diz que "não sabe o que um deputado federal faz" e mais do que sorrir, com seu humor inteligente, não nos faz pensar sobre as armadilhas do preconceito, do moralismo? E o que dizer, então da Mulher Melão? Uma mulher dançaria que, de uma forma ou de outra, presa e liberta das correntes moralistas, criticada por universitários de direita e de esquerda, graça dos marmanjos, dos donzelões por conta de seus melões (seios fartos) hoje é candidata a deputada estadual pelo Estado do Rio. É lícito que uma mulher, a Mulher Melão seja eleita? Então, perguntamo-nos todos: o que uma mulher como a Melão poderá fazer pelo coletivo? E a pergunta é: alguém no Brasil quando sai candidat@ pensa no coletivo? Então, o que dizer de figuras eminentes como Fernando Henrique Cardoso (prof. Doutor em Sociologia, famoso por suas obras intelectuais), Fernando Collor de Mello (outro Fernando), Itamar Franco, etc... De Prudente de Moares a Lula, por todos os reveses que a política brasileira já passou, enfrentando dois regimes ditatorias (Vargas e os Militares a partir de 1964) e agora um fascismo midiático, por que, então, imaginamos que a política tem de ser de cabresto, que a democracia tem de ser branca, machista, sexista, moralista em seus fundamentos? Claro, as vozes reacionárias dirão que lugar de Melão é na feira e que humorista tem de ficar na televisão fazendo-nos sorrir com piadas sem graça enquanto os rumos políticos, econômicos do país devem estar nas mãos de quem se preparou para isto, novamente, o poder e o saber institucionalizados inventando e legitimando mecanismos, estratégias de consolidação de si mesmos. Fizeram-nos crer que só existe um tipo de saber e só através deste é que podemos realizar nossos projetos. Bem, para terminar, e só para registrar, ouvi de um professor universitário, colega meu, que Tiririca, Mulher Melão e aqui na Paraíba os candidatos Cabrito, Calaço dos Correios, Gilson Ferreira e outras personalidades engraçadas não deveriam chegar ao poder, pois eles não saberiam o que fazer. Claro, este amigo preferia candidatos mais comprometidos com a coletividade como o Severino Cavalcanti, Fernando Henrique Cardoso, Antônio Carlos Magalhães (que Deus o tenha) e o Senhor do Bonfim que o acompanhe. Amém!
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